ANÁLISE DOS POEMAS: CANÇÃO AO EXÍLIO, DE WYBSON CARVALHO E PARA CAXIAS, DE SILVANA MENESES.

01/06/2014 22:55

ANÁLISE DOS POEMAS: CANÇÃO AO EXÍLIO, DE WYBSON CARVALHO E PARA CAXIAS, DE SILVANA MENESES.

 

 

ANALISANDO O POEMA CANÇÃO AO EXÍLIO, RETIRADO DO LIVRO POESIA REUNIDA, DE WYBSON CARVALHO:

 


em minha terra havia palmeiras

e o canto dos sabiás.

nela, exalava o perfume

dos jardins urbanos.

dela, ouvia-se a linguagem

singela do cotidiano.

com a minha cidade crescia

a romântica dos poetas...

 

a inimizade humana

passava por sobre ela

em eólica turbulência rumo

às outras plagas,

para derramar-se noutros

cenários de ganância existencial.

 

à minha terra, na infância,

ouviam-se sinfonias sabianas

nas manhãs iniciais de um

futuro já desenhado ao abandono.

 

e,agora,quais árvores darão

abrigo a outros pássaros canoros

para entoarem um canto de saudade?


 

O poema Canção ao Exílio é de autoria do poeta e membro fundador da Academia Caxiense de Letras (ACL) Wybson Carvalho, com assento à cadeira nº30 patroneada pelo poeta João Vicente Leitão. No qual temos como temática central o saudosismo em relação à cidade de Caxias, a respeito dos tempos de sua infância. O poeta inicia o mesmo saudando a beleza da cidade e das palmeiras de outrora.

Como primeiro elemento significativo, temos a análise do próprio título que nos remete ao conhecido poema Canção do Exílio, do também poeta caxiense Gonçalves Dias, porém, o “exílio” difere nos dois poemas, pois enquanto o poema Gonçalvino tece elogios à terra da qual está ausente e a compara com outras que segundo ele possui menor beleza, o outro lamenta a realidade em que vive nesta terra, Caxias. Dessa forma o sentimento que é expresso, tem como alicerce à fuga, tanto que se recorre ao exílio como saída da inquietude em que se vive.

De acordo com seus segmentos estruturais, o poema é composto por 21 versos e quatro estrofes, sem a presença de rimas, sendo constituído por uma oitava (estrofes com 8 versos),uma sextilha (com 6 versos),uma quadra (com 4 versos) e por um terceto (com 3 versos),não possuindo, assim, uma forma fixa. Seguindo com a análise dos demais extratos encontramos expressões como “jardins urbanos”, que representam a bela paisagem natural que havia na cidade de Caxias, bem como a alegria que exalava do cheiro das árvores, que abrigavam os “pássaros canoros”, expressão que também se refere ao canto dos sabiás que ali estavam no alto das palmeiras, referência típica à nossa cidade.

A primeira estrofe faz uma saudação à cidade que outrora existia na infância do poeta. O eu-lírico expõe que não há mais palmeiras, no sentido de reforçar a reflexão acerca da triste realidade do ambiente caxiense, em que não há uma conscientização a respeito da preservação da nossa história e das características que tornam a cidade marcante. Os dias eram alegres, como se vê no verso seguinte: “com a minha cidade crescia/a romântica dos poetas...”, ou seja, o canto do sabiá servia como uma fonte de inspiração e tornava mais radiante à beleza do solo caxiense, berço de poetas e riquezas naturais.

Partindo para a segunda estrofe temos um olhar saudoso, ao relembrar que os dissabores ficavam em segundo plano, o poema retrata que existia um ambiente harmônico que expulsava tudo aquilo que trouxesse sentimentos contrários à amizade: “a inimizade humana/passava por obre ela/em eólica turbulência rumo/às outras plagas”, ou seja, se dirigia para longe, para outras regiões. O homem que habitava a este solo abrigava uma visão otimista da realidade e do mundo.

A respeito das duas últimas estrofes temos o sentimento de inquietação, de busca por respostas, de saudosismo á uma época diferente da que se tem agora. O eu-lírico desabafa e temos um choro de lamentação intima, ele lembra o canto do sabiá de uma forma diferente, não se percebe o entusiasmo de antes, quando falava das palmeiras, do perfume, de como era bom viver aqui. O que vemos é um sentimento de inconformismo, pois, de certa forma era o inicio de um futuro, como ele mesmo diz, de regresso e de abandono. As palmeiras já não são vistas como antes, até mesmo pelo fato de muitas terem sido alvos de destruíção devido à ação humana, que desmata a nossa vegetação de uma maneira desordenada. Da mesma forma, não ouvimos o som dos sabiás pela manhã, pois, seus lares agora são poucos.

De acordo com essa perspectiva, Canção ao Exílio expressa um pedido de socorro, como o último apelo que se pode fazer: “e, agora, quais árvores darão/abrigo a outros pássaros canoros/para entoarem um canto de saudade?” Essa estrofe se resume ao desespero, a uma pergunta sem resposta, representa que essa saudade será eterna, que irá se perpetuar por todas as gerações que ainda virão. A terra citada por Gonçalves Dias, já não é mais a mesma, o exílio é agora, o desejo de mudança, num sentimento de frustração por ver todas as transformações sem ao menos poder fugir. Faz-se um questionamento a procura de todos os elementos citados na poesia que ultrapassou séculos, cadê as palmeiras, os sabiás, os primores. E a resposta é o silêncio, estamos perdendo aos poucos o símbolo que nos tornam singulares, “a terra onde canta o sabiá”.

 

ANALISANDO O POEMA PARA CAXIAS, RETIRADO DO LIVRO OUTRAS PALAVRAS, DE SILVANA MENESES:

 


quando o vento

sussurra no meu ouvido

balança-me, tremula as palmeiras

não existe mais exílio

estou em casa

com o tempo aqui preservado

os becos exalam antigos segredos

as águas ainda murmuram suas canções

os paralelepípedos

sufocados pelo asfalto

outrora pisados por poesia

resistem tal qual

as palmeiras e a sensibilidade

os pássaros voam e pousam

nas vidas entrelaçadas

o canhão lá no morro

 

guardando o passado

-que de tão longe me dá uma saudade-

com as lembranças adormecidas

numa gaveta a sete chaves.


 

O poema Para Caxias é de autoria da escritora caxiense Silvana Meneses, membro/fundadora da Academia Caxiense de Letras, com assento à cadeira nº16, patroneada por Nereu Bittencourt. O poema faz uma homenagem à cidade de Caxias, onde a escritora cresceu e teve a oportunidade de publicar grandes obras, que expressam o dom que corria em suas veias e uso da palavra como fonte de poesia.

A autora se volta para Caxias, com uma imensa gratidão e saudade dos velhos tempos. Podemos perceber o quão grande é a sua admiração ao relembrar a felicidade e satisfação de fazer parte do seio caxiense. De uma forma diferente, com o uso de versos que não se preocupam com uma forma rígida, mas sim com a forma com que as palavras são lançadas.

O poema é composto por uma única estrofe de 20 versos (estrofe irregular) e não apresenta rimas. A respeito da análise do mesmo, temos elementos que constituem uma espécie de ode a Caxias, o “vento” traz as lembranças de uma época que se respirava poesia e uma história singular, que marcaram o surgimento do berço dos poetas. “A palmeiras” simbolizam mais uma vez, o canto do sabiá e remonta à poesia Gonçalvina. De acordo com o eu-lírico a história se mantém preservada, na memória e em tudo aquilo que é possível ver ao nosso redor.

Faz-se uma homenagem ao morro do Alecrim, quando cita: “o canhão lá no morro/guardando o passado”, a guerra da balaiada aparece aqui de uma forma explicita, e reforça ainda mais o saudosismo que a autora ainda guarda dentro de si. É notório ressaltar que diferente do poema do poeta Wybson Carvalho também em alusão à Caxias, o poema de Silvana Meneses estabelece uma nova visão do passado. Enquanto que em Canção ao Exilio lamenta-se a realidade, neste tem-se uma postura de conservação daquilo que já se passou, mas que se mantém preservado. Ainda há o cheiro de poesia, a historia ainda esta guardada nas ruas e becos da cidade. Tem-se a ideia de que o que não se pode viver outrora revive agora num momento distinto.

No que se refere à linguagem, podemos perceber que a autora faz uso de uma maneira simples e particular de expressão. Porém, um traço rico de constituir poesia. Através da união de palavras típicas que correspondem ao berço da historia local: o canhão (Guerra da Balaiada); as palmeiras (árvore típica da região dos cocais); o sabiá (ave símbolo da cidade de Caxias); os paralelepípedos (as formas que a cidade possui); as águas (simbolizam o Rio Itapecuru) e o asfalto sufocado por poesia (remete ao fato da cidade ser considerada o berço dos poetas, a exemplo de Gonçalves Dias e Coelho Neto).

A partir desses elementos podemos perceber que Caxias faz parte de uma realidade que corresponde a tudo aquilo que se constitui “imortal”, são vários símbolos que traçam um perfil da chamada “Princesinha do Sertão”. Respira-se poesia e beleza em tudo que faz parte desse pequeno pedaço do mundo, as ruas, as árvores, as aves, as águas, as igrejas, as praças. Estamos cercados de história, poetas do passado e do presente, a exemplo da autora Silvana Meneses que faz reviver o sentimento de amor e zelo a nossa cidade. Com uma poesia que não se preocupa em transmitir, mas sim exprimir de uma forma singular e magnifica as belezas de Caxias, abarcado pelo simples e também complexo uso da palavra.

Odilene Silva do Nascimento Almeida.

 

REFERÊNCIAS:

 

CARVALHO, Wybson. Poesia Reunida (Coletânea). 3ª Edição. São Luís: Estação Gráfica, 2012.

MENESES, Silvana Lourença. Outras Palavras. São Luís: Gráfica e Editora Aquarela Ltda., 2005.

SOUSA, Isaac. Caxienses ilustres: elementos biográficos: tomo II. São Paulo: Scortecci.


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