Poemas de Iris Mendes
-Máquina Fotográfica:
Estou em preto e branco
Acompanham-me
Cinzas e cigarros apagados.
A ressaca do vicio, um trago indesejável.
Cai a mais pesada pedra do silêncio.
Tudo é filme antigo,
A noite é escura.
Não sei onde se esconderam as cores
Muito menos sei
Se o sol nascerá de novo.
(Op.cit.p,108).
-Liberta:
Sempre fui moça
Solta
Sem bolsa
E escova
Sem pulseira
Sem brincos
Nem batom
Vestia o que pensava
Aparentava o que pregava
Até ver meu estilo desbotado
Virando fiasco e pano de chão,
Meu mundo acorrentado
Beirando ao fracasso
E uma promessa, de mulher indefinida
Sem medo, sim!
Porém sem iniciativas
Não sei se troquei meus valores
Ou foram eles que perderam as cores
Com que roupa eu vou?
Agora que estou tão nua
E a vida é assim.
(Op.cit,p.109-110)
-O Castigo das Fadas:
Sentimentos
São laços de fadas que envolvem os humanos
Os meus, jamais devotei a alguém
Então caiu sobre mim um feitiço:
Nem príncipes, nem madrinhas ou amigos;
Nem toque de varinha de condão.
Nada de abobora ou sapatinhos,
E é por isso que tenho os pés no chão.
Caminho numa estrada sem lua.
O fim da estrada é pra solidão.
(Op.cit,p.112)
-Via Crucis:
O povo
Passa fome
Passa
Dor
A fome não passa
Não passa a dor
Não tem sabor
O povo
Passa
Frio
Passa
Sede
E fome passa até de amor
De tudo o povo é passador
E ainda é devoto
E vota poder
Ao seu agressor
O povo
É São Sofredor
Morre
E a Pátria não lhe tem amor.
(Op.cit,p.132-133)
-Incógnita:
Meu corpo
É o néctar da paixão
Que tu, abelha insaciável,
Exploras com ardor e sofreguidão
E o que me garantes, irresistível aventureira
O que será do meu mel
Se as flores são efêmeras
E a tua profunda sede é eterna.
(Op.cit,p.115)
-Alecrim:
O morro olha silencioso
A cidade.
Somente o vazio fértil ou as inquietações
Que existem no interior das pessoas
Mais serenas ou imensas
Falam.
As luzes
Dizem
A cidade,
A vida,
O mundo armado em concreto
Do homem selvagem,
Porém, ás vezes eterno,
Quem sabe prenhe a humanidade!
(À noite)!
Alecrim! Ninguém é de ferro
E a tua ternura quebrou-me
O concreto.
-Produto:
Desces a rua
De corpo em voga,
Vestido em modas
E alma nua.
Andas firme, imponente.
Respiras empáfia.
És belo, mas não te iludas:
És fútil
Embora pareças profundo.
Quando te olho,
Não tenho deslumbramento
Tenho cuidado.
Cuidado!
Em tua caixa está escrito
“FRÁGIL”.
(MENDES, 2001, p.107-108)
-Soneto da Luz:
Quando as tardes são mais quentes
Banhadas de vida, paixão e luz.
E as pessoas derramam-se, completam-se e confundem-se.
E são mais puras.
Quando a serenidade ocupa nossos espaços
A leveza pode inspirar liberdade- tentações!
A razão não vale mais nada
Explosão! Emoção!
E eu sou uma borboleta amarela que desliza sobre o azul,
Embriagada pelo encanto,
Decifra os sons do vento, bailando enamorada por entre as flores.
Meu coração é simples, porém Minh ‘alma é complexa.
Como mariposa que se precipita ao fogo, atiro-me sobre a profundidade do ser,
Em busca de luz. – Meu Deus, que loucura!
(MENDES, Sociedade das Letras: Prosa, Poesia e Cia.p.107)
Blog
Despida(Poesias)- Inês Pereira Maciel
08/09/2014 15:31Biografia de Inês Pereira Maciel
01/06/2014 23:02Poemas de Iris Mendes
01/06/2014 23:00-VIDA E OBRA DE IRIS MENDES:
01/06/2014 22:58ANÁLISE DOS POEMAS: CANÇÃO AO EXÍLIO, DE WYBSON CARVALHO E PARA CAXIAS, DE SILVANA MENESES.
01/06/2014 22:55Algumas Considerações sobre o Teatro
01/06/2014 21:56Samaritana de Vespasiano Ramos
14/03/2014 21:07Poema de Wybson Carvalho
14/03/2014 20:44Teatro
14/03/2014 15:36Eu e a poesia
No oceano das palavras frias,
Navego no meu barco de emoções,
Nele tentando fisgar a poesia,
Com meu pequeno anzol de ilusões!...
Se no meu peito bate um coração poeta,
Por certo que também bate um sonhador:
Pois se a vida sem sonhos é incompleta,
Sem a poesia, os sonhos não têm cor!
Talvez eu seja uma pobre sonhadora-poeta,
De versos sem eco, sem rima, sem métrica,
Que tentando usar a pobreza do punho,
Esboça, sonhando, poema em rascunho...
Ainda que pobres sejam meus versos
São eles, porém, que me dão a ilusão,
De que tenho o mundo, tenho o universo,
Guardados, inteirinhos, na palma da mão...
(Inês Maciel)
Congresso Nacional
Apaga a luz!
Senão há luta.
Fala baixo!
O povo escuta.
Esconde o rabo!
O povo puxa.
Compra a imprensa!
Olha que o povo pensa.
Faz calar toda a gente,
Quem cala consente.
Põe a sujeira
Debaixo do tapete,
Mente.
O que os olhos não vêem
O coração não sente.
(Íris Mendes)